terça-feira, 25 de janeiro de 2011

encaixotamento da alma

empacoto recordações
dobro lembranças de amor
reparto a dor com ele
dor daquela que ama 
partilha brutal da vida
separo as sobras
sangue, tristeza
costuro o que restou 
esfrio, aqueço
penso na volta
ponto de retorno já não existe
tentar de novo?
incerteza, inconstância
encruzilhada perdida
esquecida atrás da almofada
choro, sorriso amarelo
desespero dos últimos dias
amo, despeço
perdôo, amadureço
clamo pelo adeus
de olhos marejados

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Bye bye

Confesso o medo
Pulo fora antes de desmoronar
nada de arrependimentos
coração cansou de arroubos
mãos calejadas, rasgadas
pés não aguentam seguir 
Pingam suor, escorrem sangue
Não posso suportar
não quero derreter 
despeço
saio à francesa
sem arrependimentos, arroubos, calos, rasgos
sem ele
sem mim
tranco a porta
jogo a chave fora
pra que tentar?

domingo, 23 de janeiro de 2011

chuva

perdendo o fio
despedaço
sozinha no canto
olho lá fora
chuva
aqui e lá
nuvem cinza 
lá e aqui
tristeza
choro
solidão

puxa moço!!

 ponta direita da boca 
desejo
ponta esquerda da boca
sorriso
luz no branco do olho direito
lucidez
luz no verde do olho esquerdo
lascivia
ponta dos dedos
segredos
ponta dos pés
revés
raiz do cabelo
puxão
cerebelo

sábado, 22 de janeiro de 2011

sete momentos

olho ele deitado
luz solar ressalta
pedaços de lembranças 
farrapos do amor perdido
despedaçado
ruborizo com o pensamento
idéia boba: deitar ao lado
coisa de quem nada tem de seu
o sono levanta 
hoje distante desejo 
segredo guardado em sete momentos
amor, raiva, tesão, desespero
aflição, lascívia, afastamento
abismo sobre o passado e o futuro
Juro, tentei não ver
desviei 
o sol não me deixou fugir
maldito sol guiou o olhar

Ele e o comichão

ele
comichão
 varanda cama
ele 
comichão
 baseado  cerveja
ele
 comichão
boca pau
ele
 comichão
seio gozo
ele
comichão
sexo gemido
ele
comichão
silêncio taxi
ele
comichão
viagem distância
ele
 comichão
ele
comichão
ele
 comichão
ele

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

contratempo

pesquei o pensamento
por detrás lá estava ele
escondido entre papéis
puxei com força
rasgou em dois
pensamento fugidio
foge da mente
volta a atormentar
vá embora
deixe-me só

Monte Olimpo

Juro que quando fui até o monte olimpo não esperava encontrar Apolo. Deparei com Dionísio que mora bem lá embaixo atrás das tinas de vinho. Procurei não olhar pra Apolo e desejar apenas Dionísio, muito mais flúido e fugaz. Dionísio com seu corpo enlouquecedor, seu rebolado arrebatador, sua mente incessante; pensei que fosse capaz de me distrair. Que engano o meu. Apolo sempre estará lá, com sua beleza perfeita, sua inteligência ímpar, rodeado de mulheres, de vida, de brilho. Apolo e sua sedução. Quem diria de mim, uma simples mortal, aprisionada por um deus tão belo e garboso. Quem diria de Dionísio, tão excêntrico e sensual, não foi capaz de me libertar dos braços de Apolo. Dionísio tão esperto, observou ao longe essa bela mortal passear com Apolo no monte olimpo e nada falou, se escondeu. Ciúme o tomou, inveja de Apolo, raiva de mim. Ah, Dionísio como desejei te amar, ter sua imagem em minha mente e não tirar jamais. Que tristeza a minha, sofreria menos se assim o fosse, sofreria também, mas sofreria menos. Embebido de prazer e suor Apolo me arrebatou. O que pode uma simples mortal contra a força de dois deuses? Quem achei que fosse para encará-los? Pobre de mim, nesse exílio tão distante do mar, sozinha deitada sonhando. Nada de mim, nada dos deuses, apenas a solidão material daquela que paga por querer e desejar. Exilada e só, longe muito longe do monte olímpo que um dia eu chamei de lar.

quinto andar

do quinto andar observo o mundo 
mausoléu de lembranças olho o passado
caio no  precipício
vejo minha ruína
trancafiada na prisão
choro por ajuda
jogada na sala
reparto-me em tantas
do quinto andar desse muro procuro 

motel

mãos cantam
esfregam
cheiram
gosto ácido
reencontro despedida
lambidas obscenas
olhos
desejo
realização
corta
trava
pêlos
palavras
sedução chupada
boca língua
lençol espelho
tudo nada
lugar algum

cavaleiro montado em pêlo

sorriso
não descola dos olhos
cavaleiro louco montado em pêlo
cavalga os devaneios
olhos são poucos
bocas são poucas
beijos são poucos
lança a espada transloucada nos seios
toma o corpo,
a donzela: só desejo
arrebata tesão
saudade louca de correr as pernas
beijar o pescoço
apertar o corpo e pernas
não espera, não!
corre, esquece o tempo
esquece vem
que recebo, aperto, amasso
sorriso vai
sorriso vem
olhos
saudade da sede não cessa
vem
que recebo, aperto, amasso
devoro os sentidos
arrepio os ouvidos
solto palavras obscenas
pro cavaleiro fazer cena
falar, discursar, enfiar
vem
que recebo, aperto, amasso
ah sorriso!
olhos são tão pouco
bocas são tão pouco
beijos são tão pouco
ter é tão pouco
tão pouco,
no entanto sacio

muro de cimento

gota de orvalho desce sobre o corpo
desliza
cai no umbigo
deslizam as mãos na razão
inefável razão constrói raízes
vou fundo no desejo: ter o corpo
anos depois sinto 
pingo de chuva escorre no vidro
cai no espaldar da janela
lapido o sentimento 
misturo paixão, carência, cimento
pétala de lascívia enruga os seios
ah meus seios em seus pêlos
ruborizo de paixão, carência
sobre o muro de cimento clamo
naquele canto de quarto motel
cama, espelhos, olhos, cabelos
saudade espalmada entre as pernas
arrepio, ternura, aconchego
vontade plasmada no tempo

na madrugada

largo o perfume esvaziado na cama
amasso travesseiros
brinco com o lençol
enrosco lembranças fugazes de singelos instantes felizes
enrolo fios de cabelos destemperados pelo dormir
fumo zilhões de cigarros sentada no escuro da solidão
bebo sem parar nas ruas da babilônia
procuro não pensar
o não sentir
procuro não procurar
jogo todas as cartas no abismo de sentimentos indivisíveis
choro sangue
sangro água que passarinho não bebe
desespero da madrugada lenta
não passa
angustiada
carrego o enorme peso nas costas
tristeza mal acabada corróe o amor impossível
pratico o desdém
me reparto em milhões de noites agudas
rasgo o tempo
atravesso o mundo
desespero
sumir é pouco
viver ainda é pouco