sábado, 11 de junho de 2011

Tu
louvas cinismos
comemoras covardias
 postulas  mentiras  
cantas hipocrisias

Eu
devoro incertezas
construo desesperos  
sonho loucuras 
encontro caminhos

Paixão é uma urgência de nós mesmos projetada no outro. Como se fosse uma adoração a um espelho. Quando vemos o outro como realmente ele é (diferente de nós) o espelho se desfaz.  Desse ponto em diante, ou acaba tudo ou começa o amor.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Consciência em crise

Ouço falar em crise de consciência, poucos sabem o que é uma consciência em crise. 


Alguns momentos são tão definitivos. Escolhas que se tornam obrigações. Definições não são o meu forte. Tive que romper com isso, romper com tudo, me lançar ao nada, pra finalmente decidir pelo ponto final. Sofro ainda ao lembrar dos momentos felizes que vivi. As feridas são tão recentes que procuro qualquer refúgio para curá-las. 

Deveria me apaixonar verdadeiramente. Queria sentir de novo. Ainda não posso. Não sei se consigo, mas quero demais. O problema: os caminhos que se apresentam não são firmes. Tudo é tão fluido, tão fugaz. Não sinto firmeza em nada que é alternativa. E também não sei se quero firmeza nesse momento. Olho para os lados e só o que procuro são repetições de algo que nunca se repetirá. Para além, só o vazio, o nada. É tão difícil pra mim lidar com esse fim e não entender se os caminhos que desejo tanto realmente existem. 

Estar sozinha tem dessas coisas. Incertezas, contestações, desejos. Me acostumei a ter certeza do que o outro sentia, queria, desejava. O outro era palpável em carne, sentimentos, alma. Me acostumei a ter certeza também do que eu era, do que eu queria, do que eu sentia. E agora me sinto no etéreo, pulverizada. Antes era assim também, acostumada a não saber de nada, não ter certeza nenhuma. Como temos capacidade de nos acostumar com as coisas! Será que posso voltar ao estágio anterior sem grandes traumas? 

Antes de sentir de novo preciso me reencontrar: Saber se o que quero é o que quero. Preciso saber quem eu sou. Hoje eu não existo, sou uma grande mentira ambulante, um corpo sem alma, uma alma sem corpo.

Posse e blá blá blá

Tango de Roxxane Moulin Rouge

Ontem me deparei de novo e mais uma vez com um antigo inimigo meu. O ciúme. Que coisa triste de se sentir. O ciúme é uma mistura de sentimento de posse com uma boa dose de vaidade pessoal. É claro que todos nós já vivemos essa sensação horrível. É como um veneno que nos mata aos poucos, um frio na barriga acompanhado de uma boa dose de irracionalidade. Ter esse terrível sentimento vez ou outra é até normal. 

O problema é quando ele se torna crônico. Quando isso acontece vivemos uma espécie de cegueira a tudo o que é o outro. É como se tudo tomasse conteúdos propositados, como se nada mais estivesse sólido. Viver assim é sofrer demais. Quando o ciúme está conosco, o coração fica apertado e não podemos confiar nem em coisas naturais, como por exemplo se a cor azul é realmente azul, ou se o triângulo de fato possui três lados. Daí começa um blá blá blá sobre o certo e o errado, sobre o que é azul e o que é vermelho, sobre se existem mesmo lados no triângulo. 

Coisa besta de se fazer, idiotice, falta do que pensar. O ciúme, coisa mesquinha, pequena. Não quero isso pra mim, viver assim envenenada e envenenando alguém. Queria que todos fossem como eu, que gostassem de deitar e deixar o outro deitar também. Porém, sei que isso é impossível. O ciúme é como uma vespa, morde, machuca. E nunca mais volta a ser o que era. Quando se tem, nada mais é estável, tudo desmorona. 

Quando se é o objeto do ciúme, sim reificados ficamos, não se pode ser mais nada, a não ser a coisa calada. Maldito ciúme!

Quem tudo quer nada tem!

A indecisão é meu maior mal e de certa forma também minha maior aliada. Ela me acorda de manhã com um cheiro bom de café, daqueles bem amargos. Ela me acompanha durante as tarefas do dia, e no final da noite beija minha boca pra se despedir e desejar bons sonhos. Ela me aquece quando sinto frio e me esfria quando está tudo muito quente. Ela me protege das armadilhas da vida, e também me lançanos mais complicados descaminhos. Não saber o que se quer de um lado nos liberta de determinadas obrigações, por outro nos impede de viver prazeres que poderiam nos fazer muito bem. Não falo de qualquer indecisão, não é a cor do vestido, ou o sabor do sorvete. Nesse ponto sou bem resoluta. 

Mas quando se trata de questões mais profundas, sempre fico perdida numa confusão sem tamanho. Hora quero uma coisa, muito intensamente, até posso me sacrificar para conseguir o objeto de meu desejo. Hora já não quero mais, da mesma forma, intensamente, rejeito completamente aquilo que até ontem desejava ardentemente. Isso é um problemão pra minha vida, evidentemente mais ainda para os homens que se relacionam comigo. Hora quero um, hora quero outro. Nunca sei exatamente qual deles quero mais e na maioria das vezes acho que não quero nenhum deles. Certa vez, um homem, quer dizer um menino (fico indecisa se ele já era homem ou ainda era menino), me disse que não se pode ter tudo ao mesmo tempo, que assim se acaba sem nada. 

Mesmo não levando a sério na época, refleti tempos depois, que na verdade, talvez não quisesse nada mesmo. Talvez não quisesse ninguém. Ao mesmo tempo queria demais o "tudo" ao que ele se referia. Minha indecisão sobre esse assunto fez com que esse homem (ou seria menino?) de certa forma, acho eu, acabasse chegando a essa mesma conclusão, talvez sim... talvez não. O fato é que minha indecisão não me permitiu dar um passo a diante e fazer o que tinha me proposto a fazer. Nesses momentos minha indecisão toma um corpo sombrio e torna-se um grande mal. O arrependimento de não fazer o que se quer, mesmo que não se tenha certeza do que exatamente se quer, é uma das piores sensações que existem. Por outro lado, decidir era e acho que continua sendo algo impossível pra mim. 

A indecisão minha velha companheira mais uma vez me deu um belo abraço de urso. Indecisa fico pensando se seria certo abrir mão dessa amiga, confidente que sempre esteve comigo, nas horas boas e nos péssimos momentos. Não consigo definir se ela vai ou se fica. Acho que ela fica, talvez vá. O que importa agora é que a indecisão logo, logo me dará beijo com um belo desejo de bons sonhos...

domingo, 29 de maio de 2011

pra falar de amor II

Amor não é buraco.
Amor não é paciência.
Amor não é ressentimento.
Amor não é desespero.
Amor não é saudade.
Amor não é despeito.
Amor é sombra.
Vulto caminha só pelas pedras.
Vulto olha o mar e a lua
sonha, sonha.
O amor é outra coisa
amor, nada e tudo.
Amor: vulto, sombra, paixão.

O homem tolo

O homem tolo caminha esfarrapado.
Sua miséria não é falta de ouro.
Homem tolo caminha encardido.
Sua sujeira, desatino.
Homem tolo caminha, sonha.
Sonho devaneio vão.
Homem tolo caminha, precipício.
Precipício, esquecimento.
O homem tolo é ele

Não sabe amar.




quarta-feira, 18 de maio de 2011

medo do lobo mau


lobo mau
sou eu
disfarçada
vesti cordeiro
plumas, paetês
subi muro
saltei abismo
fiz mingau
lobo mau
dentes afiados
unhas violetas
mexi, dancei
lobo mau
cordeiro
escondi, ele viu
piscou, remexeu
ele viu, ele viu



terça-feira, 17 de maio de 2011

Reviravolta

coração nos pés
cabeça nas nuvens
estômago entorpece
olhos reviram
ando pra trás
pescoço arrepia
pele transpira
febre, torpor
pés no coração
teso, retirado
volto atrás
é tarde
tudo é mais agora
vento propaga o fogo
lágrima seca
alma seca
tudo recomeça acabando

segunda-feira, 9 de maio de 2011

umas e outras

Outro dia encontrei brinquedos
Num parquinho ali na esquina
"Siga em frente", velhos jovens diziam
momento outro.
Apenas siga 
Distração
madrugada
Coisa boa a vida
brincadeira, gangorra, balanço
No parque sou eu
brinquedo nas mãos
amanhece, sou outra
Novo momento abre
portas, janelas, coração

fosse pra ser

esquecimento só fere
logo passa, amor.
logo passa.
Não fique desesperado
logo passa.
fosse pra ser
ela diria, viria.
não desespere
passa, passa, passa.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Fortunato, intensamente amado e injustamente assassinado.

Querido Fortunato,
Foi com grande pesar que recebi a notícia de seu emparedamento. Depois de tudo o que passamos juntos, das noites mal dormidas que passei por ti, agora isso. Seu falecimento me pesa mais pela hora inoportuna do que pelo próprio fato em si. Confesso que nesses últimos dias desejei ardentemente eu mesma te emparedar, sufocar, esfaquear. Mas Montessor foi mais rápido. Eu sim teria razão para ato tão desesperado!

Quando soube do ocorrido foi impossível não pensar em nosso primeiro beijo. Lembro da conversa que encerramos com ele, era sobre algumas tolices feitas na juventude, claro frutos da pouca idade e de muito álcool. Lembro que simulou ver alguma coisa em meu pescoço e depois me beijou. Impossível não me remeter à sensação de seus lábios nos meus. Impossível não recordar da alegria que seus abraços me propiciaram. De como sua companhia me foi agradável e prazerosa. 

Difícil também esquecer os dias que se seguiram, nossas conversas, cartas, suspiros. Lembro dos dias em que esperava você nas ruas e sempre te encontrava. Naquela época sempre estava lá.

Depois de passados uns minutos da notícia, me veio à lembrança a última vez que nos encontramos. Sua aparente felicidade em me ver, seu sorriso. Seus abraços, no entanto, já não eram mais os mesmos, e seu beijo já havia se deslocado da boca para a face. Nesse momento fúnebre posso ver seus olhos naquele maldito dia em que percebi que a centelha havia se apagado. Em seguida ao sentimento de abandono veio o ciúme. Você com tantas mulheres ao seu redor, no carnaval mulheres lindas, confesso: muito mais do que eu. Aquele soco no estômago da minha auto-estima, aquela facada no meu coração. Gostaria de te agradecer por isso, há quantos anos não sentia ciúme? Nem posso me lembrar. Senti-lo fez-me entender tanto do que vivi tempos atrás. Obrigada, Fortunato.

Queria te agradecer também pelo terceiro momento pós sua morte que vivi. O mesmo instante em que descobri que me apaixonei inexoravelmente por ti e que, por conseqüência, estava viva! Depois de todas as auguras que passei, estava viva de novo! Pena que você já estava morto a essa altura da história. 

Por último lembrei porque fui abandonada naquela manhã, naquela rua. Lembrei que quando me entreguei pra você, entreguei também meu destino, nosso destino e que você sem arrependimentos jogou tudo no lixo. Ah, essa recordação da noite que passamos juntos é que me enraivece contra Montessor! Como pôde ele adiantar-se a mim? Maldito Montessor! Maldito vinho! Maldito você, Fortunato!

Enfim a história não pode repetir-se. Então, contento-me com as lembranças. Contento-me com tua morte e fico feliz que sofreu, amargurou, asfixiou-se naquela parede fria, cheia de salitre. Só entristeço quando penso o quanto poderíamos ter sido, o quanto seríamos de fato caso você não tivesse me tratado como um pedaço de pano rasgado que se joga fora por mal uso. Entristeço quando penso em você e na enorme paixão que ainda queima em minha alma. Entristeço porque triste ainda ficarei por tanto tempo, lembrando de teus carinhos, de teu beijo, dos seus pêlos, do cheiro e gosto que senti ao seu lado.

De nada adianta agora, você naquela parede, morto. Eu aqui nessa janela, viva. Longe de ti, vivo.

Boa noite e morto permaneça!
Com carinho e saudades,

Trícia.

Fênix

centelha nos seios
paixão
vento forte espalha fogo nas ilusões
mata, morre
acabam-se as esperanças
tudo vira cinzas
brisa final faz voar
dentro nuvem cinza
pássaro
renasci Trícia
força, descrença, malícia 
renascida Fênix
reconstruir
nunca parar

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Comum, trivial

comum, trivial
sou eu
cabelos normais, pele normal
perfume normal
comum, trivial
sem plumas, sem flash
sou eu 
comum, trivial
ando nas ruas
ninguém me reconhece
não quero fama
sou eu
comum, trivial
não apareço nas telas
não subo nos palcos
não falo em palestras
sou eu 
comum, trivial
beleza normal, corpo normal
estrias, gordurinhas, vergonha
estômago vazio, cabeça pensante
sou eu
comum, trivial
não uso biquini pequeno
não tenho botox nos lábios
silicone, nem pensar
sou eu
comum, trivial
passo desapercebida
ninguém vê, se bobear 
sou eu
comum, trivial
se queres será
sem brilho, sem circunstância
sem pompa, sem claque
afinal essa sou eu
comum, trivial

terça-feira, 3 de maio de 2011

Praieiro

lá vem
corpinho sarado
jeitinho sacana
tatuagem, praia, tesão
moço bonito
engana não
vem com tudo
balança corpo
escultura esculpe
molhadinha Trícia
desejo seu pau
lateja, lateja, lateja

ahhhhhhh
rapazinho safado
te pego no bar

No abrir das pernas

corro o risco
arrepio de emoção
corre risco
puxa cabelo
prende mãos
desce corpo
sobe, sobe, sobe 
no abrir das pernas
sensação
bocas encontram 
ilusão! ilusão!
transa mal dada
fóde com tesão
coisa cortada
beija, enrosca
foge que eu fujo
pega-pega não faz bem
chupa, fode, come, cospe
desaparece não.

marcas

Escrevi o nome 
postei na alma
escondi atrás do travesseiro
ele não viu
só vê quando quer
só quer quando vê
raspei, tentando apagar
adiantou nada
arranhou, marcou
marcas são tão vãs
apagam-se com o tempo
arranhões ficam
não são levados pelo vento
presta atenção
isso é sério, rapaz
esquece o errado
corre e abraça
antes que seja tarde demais

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Revelação

Vi
caído no chão
falava coisas, não pensava
palavras de outros
não as dele
sorria e andava
andava, sorria
caminhava ao precipício 
não via
eram seus pés
sentimentos outros
ruborizei a fala
fala outro
o amor não existe
queria dizer: redescobri amor!
não essa 
outra
aquele ali no chão
abraço, beijo
sorriso, descoberta
revelado amor
escondido, empoierado
grata surpresa!
triste fim de Trícia
aprisionada por um olhar

domingo, 1 de maio de 2011

Quem tem medo do lobo mau?

Foge garotinha
Corre com sua capa vermelha
lá vem o lobo
corre pela cidade nua
esconde
pega
devora
deglute, engole
cuidado garotinha
ali bem ali
na esquina
na volta da vida
ele vai te cuspir

Fotos não respiram

Eu sei fotos não respiram
as cores enfeitiçam os olhos
Vídeos respiram, não tem gosto
Esse vidro entre nós
Só a vida surpreende os cinco sentidos
Nossa covardia pairando no ar
vontade louca de sentir
Será tarde?
Suas fotos, lembrança do vidro
nada tem cheiro, gosto
Beijar a boca, devorar o corpo
Idéias fixas
Nada de amor ou carinho
Só carne, sexo, desejo
problema?
Desejar tão loucamente sem romance?
Sem oi meu amor?
Sem flores, chocolates, cartas?
Quando via, isso não era importante
A obscenidade, a sacanagem, o perambulismo.
Desejava  
queria
Desisti. Fui eu ou foi você?
silêncio: contumácia.
fotos não respiram

Vira e mexe

A esposa despediu, disse boa noite e deu um beijo. Ele permaneceu sentado no sofá. Esperava que ela dormisse para fazer aquilo que fazia toda noite. Esperou para ter certeza, esperou o silêncio. Depois levantou-se do sofá e mudou o canal da tv. Mas naquela noite algo estava diferente. As imagens exibidas pelo canal a cabo não o satisfaziam mais. Tentou imaginar, fechou os olhos e apenas ouvia. Não o satisfazia mais. Já fazia um bom tempo que sua rotina noturna era aquela mesma, teria enjoado? Talvez, teve dúvida. Tomou a decisão de procurar algo diferente no computador. Quem sabe, uma imagem mais interessante que o pudesse satisfazer fosse encontrada ao acaso? Plugou num site de sacanagem. Uma estranha lhe fez um convite pra conversar, ele, descompromissado com tudo, aceitou. Conversaram por alguns minutos e ela pediu que ele ligasse a webcam. Reticente tentou evitar, mas já estava tão envolvido que aceitou. Ao contrário do que ele havia imaginado, era uma linda mulher do outro lado da máquina. Seus seios chamavam sua atenção. Ela ameaçava sua fidelidade à esposa com um decotérrimo no vestido vermelho. Papo vai, papo vem, duas da manhã ela o chamou, disse vem... Ele sem titubear, embevecido de desejo, anotou o endereço e em minutos chegou ao carro. Com a mão no volante duvidou. Será que ele seria capaz de ir até o final? A imagem do decote voltava em sua cabeça, acelerou e rapidamente chegou ao endereço anotado. Saiu do carro, tocou a campainha e esperou. Minutos depois ela atendeu a porta. Quando ele ia dizer boa noite, ou qualquer coisa do gênero, ela o tomou de assalto. Rancou suas roupas e quando ele percebeu já estava em pleno gozo. Terminado o serviço, a moça solicitou o pagamento. Não, ela não era uma profissional. O pagamento era a atenção, amor, carinho. Isso ele não poderia dar. A fatura era muito alta para ser paga assim, de repente. Ela despediu-se, forçou sua saída. Pediu que nunca mais a procurasse. Ele saiu ainda um pouco sem entender, entrou no carro e seguiu pra casa. Já amanhecia quando chegou e a esposa ainda dormia. Tomou um banho e quando terminava de se enxugar a esposa já fazia café na cozinha. Trocou-se e rumou para a sala, o café da manhã já estava à mesa. Sentou-se, como se nada houvesse de diferente. Comeu como se nada houvesse acontecido. Conversou como se nada houvesse mudado. Beijou a esposa, como se não fosse culpado. No carro rumo ao trabalho pensou que deveria fazer algo, deveria ter coragem, teria que ter coragem. Mas nada fez. Nada poderia fazer. Percebeu que mesmo tendo vivido de forma tão intensa aquela aventura, só o que queria mesmo, era o beijo e o boa noite da esposa. Sendo assim percebeu que vira e mexe as coisas mudam, mudam tanto que acabam permanecendo da mesma forma que eram. E seguiu seu dia, sem muito pensar no que havia acontecido.

Cio

Para mim é tão fácil desejar. Convenhamos existe uma certa história (muito mal contada, diga-se de passagem) de que as mulheres não desejam, apenas amam. Eu não acredito nisso. Pelo menos, não é assim comigo. Eu desejo, e  muito. Não estou falando de uma noite romântica, à luz de velas, champagne e fogos de artifício, como se costuma pensar que uma mulher desejaria. Não. Eu desejo cheiro, corpo, pele, suor. Desejo carnalmente. Desejar simplesmente. Desejo sexo, porque não? Desde pequenas aprendemos que devemos casar, ter filhos e depois morrer pro sexo. Ou então contentarmos com um beijinho e boa noite. Essa vida pra mim não basta. Acho que não só pra mim, mas muitas de nós não se contentam com isso.
Qual o problema de querer, assim como os homens podem querer, apenas transar, pele, carne, suor, secreção, gozo? Eu particularmente ando muito interessada em corpos masculinos nus, sarados ou não, negros ou brancos, tatuados ou não, turbinados ou não. Fico vendo eles passar em frente aos meus olhos e os desejo cada vez mais. Os imagino mexendo, gemendo... seus sons e cores, sorrisos nas bocas molhadas, gotas de suor. Uma vontade que sobe e desce, aflição no meio das pernas, pega nos olhos e se espalha pela boca, orelha, cabelo, seios, barriga e toma conta de todo o meu corpo. Uma coisa incontrolável que jamais conseguiria lutar contra. Na verdade, nem tento lutar já me dou por vencida de antemão. Por que o prazer que me dá desejar desse jeito tão profundo é para mim a melhor sensação que já experimentei. Às vezes fico assim por horas, me excito... sem desejar parar. Imagino cenas e situações das mais variadas, sempre picantes momentos de prazer. Nessas horas o desejo toma conta de mim, como se fosse meu dono e nada mais importa, sou simplesmente ele, nada mais além dele. Esse desejo intenso de mulher no cio. Nada romântico, nada plasmado de um cor de rosa irreal. Apenas  uma mulher de carne e osso. Sexo e nada mais.

Dia de sol

felicidade efêmera
seu sorriso me satisfaz
desejo tanto apreendê-lo na mais singela fotografia
queria eterno
sem envelhecer
sempre
seu sorriso, lindo dia de sol pra mim

Palavra muda

Muda é palavra
sem som
tum tum tum
ninguém responde
Muda a palavra
Responde: não há nada
tudo é silêncio
imensidão de sons irriquietos
palavra muda
tum tum tum
do outro lado
não há ninguém 

Dessangrar

sangue
guardanapo
visão hedionda
sangue 
escorre do corpo
sangue
nada mais
apenas o corte
profundo
 sangra
dói
mais um corte sangra

Sonhos

sonho loucuras irrealizáveis
se soubessem sei: tremeriam
meus sonhos, devaneios de mulher casada, amante, mãe
filha, tia, irmã, amiga.
eróticos, terrivelmente violentos
indescritíveis
Tenho todos os sonhos guardados em mim.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A morte da Inocência - Tragédia em seis partes


A morte da inocência

Deixei minha inocência morta, assassinada por um vírus mortal.

Sepultada com mil flores sobre o túmulo: 

choraram meu carinho e minha alegria, 
velaram o corpo atentos aos pássaros do cemitério.

Com as mãos dadas ao futuro incerto, sofri.

Santa inocência jaz, num calmo dia de quarta-feira.


Alegria cega

minha alegria chora.

De mãos dadas com carinho, vela por inocência.

Seus punhos porejam desejo e solidão.

Olha mas não vê.

Está cega.


meu tesão não foi ao enterro

Meu tesão não quis comparecer ao velório de inocência.

Estavam brigados. Preferiu caminhar na tempestade, ver raios e trovões.

Quase morreu eletrocutado.

Escondeu-se logo abaixo de um viaduto.

Chorou a morte da inocência mas não contou pra ninguém.

Sentiu vergonha e escondeu-se dentro de si.

Ainda está lá, em lugar algum.

Quem sabe um dia volta?


meu rancor

meu rancor caminha livre.

descomprometido com tudo.

Ainda vive.


mágoa desperta

minha mágoa despertou zonza de sono.

Espreguiçou, encolheu..

Ta confusa e não sabe o que fazer.

Tira a roupa, toma uma café.

Espera, olhando o nascer do sol.


Carinho chora


Meu carinho insiste no túmulo permanecer.

Todos já deixaram o cemitério naquele triste dia em que inocência foi sepultada.

Já é madrugada e carinho ainda chora.

Bebe um gole de veneno.

Morrer é pouco.
 

Sobrevive 


Descalço sai à procura do tesão.

Mal sabe carinho que tesão se escondeu tão bem

que nem ele mesmo seria capaz de encontrar.

Chora ainda carinho, chora.

Dorme de tanto chorar.

Acorda 



Não se reconhece mais.

É outro agora.

 Não pode mais voltar.