domingo, 1 de maio de 2011

Vira e mexe

A esposa despediu, disse boa noite e deu um beijo. Ele permaneceu sentado no sofá. Esperava que ela dormisse para fazer aquilo que fazia toda noite. Esperou para ter certeza, esperou o silêncio. Depois levantou-se do sofá e mudou o canal da tv. Mas naquela noite algo estava diferente. As imagens exibidas pelo canal a cabo não o satisfaziam mais. Tentou imaginar, fechou os olhos e apenas ouvia. Não o satisfazia mais. Já fazia um bom tempo que sua rotina noturna era aquela mesma, teria enjoado? Talvez, teve dúvida. Tomou a decisão de procurar algo diferente no computador. Quem sabe, uma imagem mais interessante que o pudesse satisfazer fosse encontrada ao acaso? Plugou num site de sacanagem. Uma estranha lhe fez um convite pra conversar, ele, descompromissado com tudo, aceitou. Conversaram por alguns minutos e ela pediu que ele ligasse a webcam. Reticente tentou evitar, mas já estava tão envolvido que aceitou. Ao contrário do que ele havia imaginado, era uma linda mulher do outro lado da máquina. Seus seios chamavam sua atenção. Ela ameaçava sua fidelidade à esposa com um decotérrimo no vestido vermelho. Papo vai, papo vem, duas da manhã ela o chamou, disse vem... Ele sem titubear, embevecido de desejo, anotou o endereço e em minutos chegou ao carro. Com a mão no volante duvidou. Será que ele seria capaz de ir até o final? A imagem do decote voltava em sua cabeça, acelerou e rapidamente chegou ao endereço anotado. Saiu do carro, tocou a campainha e esperou. Minutos depois ela atendeu a porta. Quando ele ia dizer boa noite, ou qualquer coisa do gênero, ela o tomou de assalto. Rancou suas roupas e quando ele percebeu já estava em pleno gozo. Terminado o serviço, a moça solicitou o pagamento. Não, ela não era uma profissional. O pagamento era a atenção, amor, carinho. Isso ele não poderia dar. A fatura era muito alta para ser paga assim, de repente. Ela despediu-se, forçou sua saída. Pediu que nunca mais a procurasse. Ele saiu ainda um pouco sem entender, entrou no carro e seguiu pra casa. Já amanhecia quando chegou e a esposa ainda dormia. Tomou um banho e quando terminava de se enxugar a esposa já fazia café na cozinha. Trocou-se e rumou para a sala, o café da manhã já estava à mesa. Sentou-se, como se nada houvesse de diferente. Comeu como se nada houvesse acontecido. Conversou como se nada houvesse mudado. Beijou a esposa, como se não fosse culpado. No carro rumo ao trabalho pensou que deveria fazer algo, deveria ter coragem, teria que ter coragem. Mas nada fez. Nada poderia fazer. Percebeu que mesmo tendo vivido de forma tão intensa aquela aventura, só o que queria mesmo, era o beijo e o boa noite da esposa. Sendo assim percebeu que vira e mexe as coisas mudam, mudam tanto que acabam permanecendo da mesma forma que eram. E seguiu seu dia, sem muito pensar no que havia acontecido.

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